sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O Juízo de Papai Noel


Aconteceu, como um dia acontece a todo mundo, de morrer Papai Noel. 
Julgou-se, de início, pelos seus atos aqui na Terra, que seria prontamente acolhido por Deus, pois, de certo, Satanás não havia de querer tal indivíduo perambulando pelo Inferno dando exemplos de bondade e consideração para com os outros.
Assim sendo, senso comum, ele se dirigiu prontamente ao Céu, devendo ser apenas um ato formal Deus pedir para que Lúcifer fosse avisado da chegada de mais uma alma ao Paraíso. Este, ou algum assessor menor, deveria apenas carimbar “RECUSADO” no prontuário do defunto.
Se bem ainda não sabem, mas um dia saberão, funciona mais ou menos assim: cada indivíduo, ou alma, se preferirem, dirige-se para onde julga ser merecedor. A outra parte, Deus ou o Diabo, é comunicada e, caso ache justo ser de seus domínios tal alma, faz reclamá-la. Vale ressaltar que a concorrência é acirrada. Caso não haja consenso e não havendo acordo na Junta de Conciliação, o indivíduo pode: (1) ir para o Purgatório, onde entra em uma longa fila de espera até que seu caso seja julgado e, com todos os recursos que têm direito as partes, leva uma eternidade; (2) voltar à vida afim de que seja reavaliada sua situação. Neste caso pode voltar em (A) mesma situação que saiu; (B) situação pior – para se recuperar; (C) situação melhor – para ver como se comporta com o que aprendeu em vidas anteriores; não se tendo claro um consenso sobre qual das situações, entre 2B e 2C, é pior; (3) ir para o Limbo, sendo que este último pode ser de duas espécies: (A) em um lugar que não se sabe ao certo onde é, não podendo assim se fazer uma melhor avaliação da pena; e (B) na própria Terra, onde a alma, em corpo físico, em forma humana, perambula entre os demais, nunca apresentando progressos no trabalho e demais situações cotidianas. Dizem, inclusive, que mais da metade dos viventes (mais da metade!), se assim os podemos chamar, é composta por almas condenadas em 3B.
Fato é que o Demo reclamou para si o Bom Velhinho e, quando chamado a dar seus motivos, falando direto com Deus, pois tal alma não poderia ser julgada por assessores de menor importância, perguntou-lhe o mais alto regente:

- Por que Vossa Senhoria acha que esta alma deve ir para o Inferno? – Pergunta Deus, convicto de sua vitória.

- Para ser breve, pois, embora habitemos a eternidade, o nosso tempo é curto, explico: o Bom Velhinho, Santa Claus, Papai Noel, Pai Natal, São Nicolau, como o chamam na Terra, o tempo todo foi um mau exemplo à humanidade (falava isso apontando para o velhinho, presente, ali sentado que, espantado, sentindo-se culpado, nada entendia). O Natal foi inventado, lá pelo ano 300 após o nascimento de nosso tão adorado Jesus (não se sabe se aqui havia ironia ou era sincero o seu tom), pela instituição que mais usa seu nome em vão. Usurparam dos povos nórdicos a data que comemorava o fim da mais longa noite do ano e o início da vitória do dia sobre a noite, 25 de dezembro, e Papai Noel, com uma mentira (pois todos sabem que Ele nunca poderia ter nascido nesta data) e muitos presentes, ajudou a consolidar a festa de natal. Eu poderia ainda falar muito mais, de pecados maiores e menores, da sua ligação com as forças capitalistas, maus tratos às renas, exploração de Duendes, a tentativa de iludir crianças, do estimulo à corrupção de menores que trocam o bom comportamento puro por presentes etc. etc. e tal. Mas vou só me ater a esses graves pecados iniciais, pois não haveria inferno suficiente para tantos pecados – concluiu o Demo, arfando inflamado.

Pensativo, Deus, que não suporta perder almas, pediu:
- Sei, sei! Realmente, olhando de seu ponto de vista o caso é grave. Entenda, porém, Vossa Senhoria, que estamos julgando uma instituição e sonhos, não uma simples alma igual a todas as outras. Neste sentido, apesar de não lhe tirar a razão, queria gentilmente pedir-lhe para que considerasse mandar, provisoriamente, o Bom Velhinho, de volta à Terra, de tal sorte que ele possa reparar os seus erros.

- E como Vossa Senhoria acha que ele deveria voltar para expiar esses graves pecados? E, principalmente, onde? Pois não há de voltar em um lugar qualquer. – concluiu o Diabo com um ar de satisfação.

Deus novamente se fez pensativo e, com um certo sorriso malicioso, de quem sabia minimizar derrotas, sem muitas escolhas, sugeriu:

- O lugar é fácil: o Brazil. Lá ele terá bastante trabalho e oportunidades de se recuperar. Quanto ao seu papel, vamos deixá-lo crescer, sem nossa interferência, para ver o que acontece.

- Eu topo! – falou o Demo, sabendo que a posse da alma seria agora apenas uma questão de tempo.

Apertaram-se as mãos e foram cuidar das tantas outras almas que por lá chegam todos os dias.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O Jardim da Poeta

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A cidade havia crescido, as ruas de paralelepípedo tinham dado lugar ao asfalto, as casas antigas, ao comércio e prédios. No entanto, o Jardim de Baixo, que é como chamávamos a Praça da República, continuava igual, conservam-se, de minha infância, a Matriz e a Banca do Gaúcho. Mantive eu também o hábito de todo domingo cedo comprar o jornal local para ler os poemas de Armínia.
Nunca fui de reclamar das mudanças e do progresso. Em geral, gosto. Lamentava apenas a transformação da casa do outro lado da praça em prédio, pois nela havia as mais belas flores, tudo lá era mais: o verde mais verde, o vermelho mais vivo. Creio que o próprio Jardim de Baixo tinha certa inveja da quantidade de pássaros da pracinha particular daquela casa.
Quando piá (assim me chamava o Gaúcho), eu ia comprar o Jornal para o Vô Laerth, especialmente para ler os poemas de Armínia que, além do locais que citei, é a grande lembrança dos tempos de guri. Foi com seus poemas que aprendi a ler e, particularmente, peguei gosto pela música, poesia, literatura e arte. Vô Laerth musicava alguns versos da poeta e, no violão, cantava para mim. Lembro-me especialmente de um que conhecia cantado:

Você Indo
Você indo 
Leva o meu amor pra lá dos confins
Contemplar o luar. 
A vida uma dádiva me criou
Você passa, deixa graça em tudo
Fico mudo ao ouvir o seu dom natural
Sua mágica luz, sua música
Quantas canções de amor eu não fiz
Sons que perderam o tempo e o lugar
Ler o momento, deixá-lo seguir
Como o abrir de uma flor
Muda o tom do jardim
Quantas canções de amor eu não fiz
Porque não tinha você pra ouvir

Percebi que tudo tinha um porquê!
Não mais tinha Vô Laerth, nem a casa do jardim, mas ficaram a praça, a banca, a Matriz  e a coluna de poemas de Armínia, que já devia ser muito velha, mas, sem faltar um domingo, publicava um novo poema.
A casa agora era um prédio, os netos dos pássaros davam preferência à praça, exceto pelas flores de um apartamento do terceiro andar, em cujo jardim, de menos de um metro quadrado se avistavam as mais belas flores jamais vistas, nem na velha casa. Fiquei curioso por saber quem morava lá, mas nesses tempos modernos ninguém conhecia mais ninguém. Até que um morador antigo, como toda simplicidade do mundo disse: “A Dona Armínia mora lá. Depois que ela vendeu a casa para fazer o prédio, ficou morando lá”!
Atravessei a praça emocionado. Apesar da idade, imaginava-a bela por suas palavras, via a velhinha em algum vestido de chita florido, picinè antigo, cabelos presos, tomando chá ao entardecer em frente à praça. Tudo agora fazia sentido: a praça, a casa antiga, o jardim, as poesias, até o prédio com aquele tímido jardim ganhava uma lógica moderna. Eu só me perguntava por que não havia nenhum livro dela.
O interfone do apartamento demorou a atender. A voz da senhora do outro lado dizia que Armínia viajara. A resistência, só foi vencida depois de várias histórias de minha infância, do Vô Laerth, das compras dominicais de jornais, de vários nomes de poesias e, finalmente, depois de cantar “Você Indo” no interfone – a música de meu avô com a letra de Armínia eram a união perfeita. Nada superaria, porém, a emoção de conhecer Armínia e seus jardins, suas confusões de flores, sentimentos, cheiros, momentos, luzes e cores.
Tudo, porém, desmoronou ao abrir da porta do apartamento 32. A casa era velha e mal cuidada, a mulher, que insistia em se apresenta como “acompanhante” de Dona Armínia, era horrível e provavelmente sempre fora, pois guardava marcas de doenças e deficiências de infância. Constrangido com tudo, acomodado na sala, o único ponto que se destacava era o jardim da sacada, com flores belas e coloridas - perfeitas!
- Fiquei encantado com o jardim. Ele dá vida ao prédio, 
  empresta graça à vida! – falei tentando achar o que dizer.
Nisso, a velha, que percebia minha decepção, com um tom de quem sabia tudo que ia se passar naquela conversa, perguntou-me:
- Quer conhecê-lo?
E nos dirigimos à sacada. Era tudo artificial! A grama e as flores lindas eram de plástico. Tudo que eu queria era sair daquele lugar horrível correndo. A mulher, calma, pediu para que eu ficasse mais um momento:
- Meu jovem, a vida, às vezes, é cruel com a gente. Tanto em nosso nascimento, quanto no tempo que duramos. Alguns de nós talvez devessem morrer logo, outros tantos, bons e belos, deveriam durar mais. Mas a vida é a vida! E ela deve saber o que faz.
Sua voz ganhava belos tons e contornos e isso era tudo que eu via enquanto ela falava.
- Não queria que você subisse aqui, por motivos óbvios. Você os sabe agora. Perceba apenas que você pode tratar as coisas que recebe e devolvê-las ao mundo de outra forma. Não há como manter o jardim da casa velha, mas quem vê lá debaixo não precisa ver um prédio sem vida. Pra que mostrar a cara marcada, se a alma continua jovem? Assim são as flores, os sentimentos e a poesia. 
A senhora fez um pequena pausa antes de me encaminhar à porta e concluiu com um sorriso que amenizava minha culpa:
-  Ah! Se disser a alguém um dia que me conheceu, fale de flores e poesias.
Beijei a testa daquela bela mulher e lembrei-me da música de Armínia e Laerth. E, finalmente, entendi que tudo tinha um porquê!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pau Brazil

Lembro-me, de ouvir falar, dos Réis. Contos de Réis! Ainda acho bonito e engraçado quando escuto que algo custa 5 conto; conto mesmo, não ia para o plural. Conto de Réis. Circulou de 1692 até 1942, quando foi criado o Cruzeiro.


Vivi o tempo do Cruzeiro; do Cruzeiro Novo(1967); Cruzeiro, de novo (1970); Cruzado(1986); Cruzado Novo(1989); Cruzeiro, novamente (1990); Cruzeiro Real (1993); e, por fim, Real(1994), de novo - porque os Réis eram o plural de Real.

Cheguei a uma conclusão simples: o que atrapalha todos os planos econômicos são estes nomes sem sentido que dão à nossa moeda. Ele não pode ser assim escolhido ao acaso; tem que ter uma razão, um nome forte, com significado histórico e, ao mesmo tempo, ser simples, de fácil aceitação.


O “achamento” do Brasil se deu em uma quarta-feira, 22 de abril de 1500 e na quinta fomos batizados de Ilha de Vera Cruz; depois Terra de Santa Cruz e, finalmente, de Brasil; “devido a uma árvore avermelhada usada para tingir linhos, sedas e algodões, concedendo-lhes um suntuoso tom carmesim ou purpúreo, a cor dos reis e dos nobres”, a Caesalpinia echinata ou pau-brasil.


Creio que nenhum nome ficaria melhor para a nossa moeda que Pau-Brasil ou Pau-Brazil, para não haver problemas no exterior.


A outra grande vantagem é que já estamos acostumados e usamos esta moeda no dia-a-dia: um lanche, por exemplo, custaria P$ 5,00 ou popularmente falando cinco Pau!

Percebam que perderia o sentido aquela enorme quantidade de zeros, pois tudo custaria entre 1 e 999 paus. Uma calça custa cem Paus e um carro 30 Paus, ficando os zeros implícitos, sendo tudo mais simples, além de desestimular a inflação.

O governo poderia apelar para o orgulho nacional e o povo iria corresponder. Quando o ministro da economia viesse a público dizendo que devemos fazer sacrifícios para que o Pau suba, certamente toda população iria colaborar. Quando dissessem que teríamos que manter a alta do Pau em relação ao dólar, não haveria dúvidas que o Pau deveria sempre estar forte. Talvez apenas perca a coerência a expressão “tô duro” pra quando se está sem dinheiro, “tô mole” parece mais adequado!

Mesmo os humoristas terão o seu quinhão com alguns trocadilhos infames com expressões como “com quantos paus se faz uma canoa”, “pau pra toda obra”, “baixar o pau” etc.

Um último esclarecimento seria sobre os centavos: seriam chamados de Japas.

Assim um cafezinho custaria P$ 1,50 ou um Pau e cinqüenta Japas.

Bem, agora deixo pela imaginação de cada um as figuras que apareceriam nas notas e moedas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Crenças

 Ilustração: Janny

 Estava deitado em minha cama, quando ela veio, encostou sua cabeça em meu peito e permaneceu ali, quieta. Sabia que quando ela fazia isso, vinha alguma conversa séria.

Seu jeito meigo, infantil me encantava. Minha vida havia mudado depois que a conheci. Tinha aprendido muito nestes últimos 8 anos.
Depois de sua chegada, parei de ver TV e ler jornal à noite. Desligava tudo para ficarmos em paz. Comigo ela conheceu Vinícius, Chico, Gal, João Gilberto, Tom, Luiz Gonzaga etc. Com ela percebi que ainda tinha muito que aprender das coisas que pensava que já sabia.
Entretidos em nossos jogos, vivíamos entre músicas e livros, beijos e abraços. Ela era uma criança, querendo aprender tudo que podia e eu era uma criança, querendo reaprender tudo que podia.
As minhas divagações foram interrompidas com uma pergunta:
- Tem gente que acredita que depois de morrer vai para o 
  céu, tem gente que acredita que morre e volta,    morre e
  volta. Você acredita em quê?
Sempre me senti à vontade, com os amigos, para brincar com estas incertezas, mas desta vez não. Ela sempre confiou em mim e merecia uma resposta séria e honesta. Mas em que realmente acreditava eu?
Ansiosa ela me apressava.
- Estou pensando, respondi meio irritado.
- Ah! – Ela, meio impaciente, mas sem se arrepender da 
  sinuca em que me colocava.
Após algum tempo, não exatamente com estas palavras, comecei:
- Você tem algumas características de seus pais, que por
  sua vez têm dos pais deles, que têm dos avós e   assim por
  diante. Seus filhos vão ter algumas características suas e 
  de todas estas pessoas. Certo?
- Certo. Concordou ela, já sentada na cama.
- Fora isso, tem muita coisa que você aprendeu comigo, na
  escola, com seus amigos e vai ensinar para os seus 
  amigos, filhos e netos.
- Ou seja, seus filhos e netos além de algumas
  características herdadas de você, vão ter também algo de
  bom (ou ruim) que eu transmiti e ensinei durante a minha  
  vida. Desta forma eu viverei para sempre. Não no meu
  corpo, mas com o que eu tentei aprender, melhorar e
  ensinar nesta vida.
- Eu serei julgado por tudo que transmiti às várias
  encarnações que me sucederem. Ao mesmo tempo terei
  meu juízo final e minhas várias encarnações. Certo?
Ela apenas consentiu com a cabeça, antes que eu continuasse.
- Assim como cada fio de cabelo e cada grão de arroz que
  você come têm importância fundamental para
  que todo o nosso corpo sobreviva, cada pessoa que passa
  por aqui também. Pouco importa se viva um   dia, um ano
  ou cem, todos têm algo a nos ensinar, os bons e os ruins.
  Se cada um se preocupar em fazer bem o seu papel,
  teremos, em algum tempo, um mundo melhor.
Ela me olhava com atenção, sem entender tudo que havia dito. Mas hoje é nisto que acredito: na nossa vida eterna, através das várias encarnações que irão nos suceder e julgar todos os nossos atos! Em cada conversa que tocam neste assunto, não brinco mais.


Marina querida, passados quase dois anos desta conversa, você reforça minha crença e esperança na humanidade.


Parabéns pelos seus dez anos de vida.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Bola Torta

Ao Afonsinho


No início dos anos 70, após o Tri no México, eu me tornara um fanático por futebol. Jogava bola todos os dias. Quando não estava jogando, colecionava figurinhas de times ou jogava futebol de botão. Meu grande sonho era jogar no Santos de Pelé.
Nosso timinho era bom. Jogávamos com times de outros bairros e, mesmo sem muita organização, íamos bem. Tínhamos jogo de camisa e bolas, ganhos de um vereador. Dentre essas bolas, tinha uma torta: se fosse chutada à direita, ela desviava tanto que saía à esquerda. Vivíamos aprontando com essa bola. Nos divertíamos à beça.
Resolvemos participar de um campeonato, mas tínhamos dois grandes problemas: apesar de jogarmos bem, éramos todos moleques; e, talvez por isso, faltava conjunto. Convidamos para técnico o Inocêncio que, na década de 50, havia sido um grande goleiro e jogara no Palmeiras.
O Nô nos ensinou sobre tática, como chutar a gol e, principalmente, bater faltas: “Ótima oportunidade de gol”.
É claro que não resistimos a pegá-lo com a bola torta. Ele, apesar sério, tinha senso de humor e rimos muito com isso.
Mas o que mais aprendemos com o Nô foi como jogar bola de verdade, sem fazer faltas ou reclamar do juiz. Ensinamentos sobre ética e caráter que carregamos por toda vida. Com ele, descobrimos que o mais importante era jogar e ganhar seria conseqüência disso.
E funcionava! Apesar de todas as dificuldades, contra adversários maiores e violentos, fomos ganhando quase todos o jogos, até chegarmos à final do campeonato.
A final era contra o Caiçara. Por terem feito melhor campanha, jogavam em casa pelo empate. Como em todo campeonato, tínhamos uma grande desvantagem por fazer poucas faltas. A salvação era o Marolla no gol que, apesar dos 13 anos, fazia defesas incríveis. O difícil mesmo era jogar contra o juiz que roubava descaradamente: tinha anulado dois gols nossos, não marcou um pênalti e deixava o time deles meter o pé à vontade.
Assim, com o juiz impedindo o nosso time de marcar gols e o Marolla pegando tudo, o jogo caminhava para terminar em 0 x 0, quando, aos 44 do segundo tempo, o Nandinho recebeu uma bola, driblou um, dois, três e foi derrubado dentro da área. Pênalti! Não, não podia ser: o juiz estava marcando fora da área. Foi um briga geral. Até o Nô, que era a calma em pessoa, perdeu a paciência e entrou em campo para discutir com o juiz. Antes de sair, pôs a bola em minhas mãos e, apontando para a Bandeira do Brasil, atrás do gol, à direita, disse:
- Mira na Bandeira e chuta forte.
Ao pegá-la, entendi: era a bola torta. O filho da mãe não estava bravo nada, havia entrado em campo apenas para trocar as bolas.
Tomei distância e, como ele me dissera, chutei forte. A bola ia pra longe do gol, mas, de repente, guinou à esquerda e caiu - um golaço.
Enquanto o time ainda comemorava, ele, com medo que tivesse desaprendido, em um só instante, tudo que me ensinara, disse:
- Não foi ético o que fiz.
- Mas foi justo o que fizemos – respondi.
- Mas não cabe a nós fazer justiça com as próprias mãos.
- No caso, foi com os próprios pés – concluí rindo do 
  trocadilho infame.
Durante um bom tempo, o assunto era a força e o efeito de meu chute. Fiquei famoso por aquela falta. Vieram até propostas do Guarani e do Santos para eu fazer testes, mas não fui: sabia que neste caminho não encontraria mais bolas tortas, nem homens retos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Em quem vou votar

Mal havia me deitado para dormir e o rádio-relógio já despertava. A noite, além de curta, fora agitada por sonhos malucos e cansativos. E ainda era acordado por um rádio meio fora de sintonia, chiado, cheio de vinhetas e homens falando no horário político. Minha vontade era de levantar rápido e parar com aquele novo pesadelo, mas não conseguia, ficava entre dormir e acordar.
De repente o som do rádio ficou claro, a voz que vinha, grave e suave, dava prazer em ouvir, a música de fundo, se houvesse, estava em perfeita sintonia com a fala. Acho que se Deus falasse um dia comigo, teria aquela voz, aquela entonação.
Apesar do prazer em ouvir aquela voz suave que ocupava todos os espaços de meu quarto, o discurso era o mesmo:
“Sei que vocês estão cansados de políticos que prometem, prometem e nada cumprem...”.
Já sei, você não vai prometer nada. E a novidade? – Pensei
“Eu não vim lhes prometer nada. Vocês devem estar se perguntando, então, o que estou fazendo aqui. Bem, vim dizer, no curto tempo que tenho, quais são minhas propostas eleitorais. Tenho quatro propostas que mudariam tudo. Mudariam o País e quem sabe o mundo e daria um novo rumo a tudo. Hoje só vou poder apresentar duas, as econômicas, mas, nos próximos programas apresentarei a demais, as sociais.”.
Nesse momento, resolvi parar com as minhas considerações e ouvir atentamente o que tinha a dizer o candidato megalomaníaco com voz divina.
“Só poderei aqui apresentar um resumo da idéia. A proposta completa esta em minha página na Internet. A minha primeira proposta é a seguinte: faremos uma total mudança em como o governo arrecada. Vamos diminuir todo tipo de impostos sobre os salários, sobre os serviços e sobre a produção. Os impostos viriam principalmente sobre as propriedades urbanas e rurais. Tome como exemplo uma cidade. Seriam somados todos os terrenos de cada proprietário. Uma pessoa cuja soma das áreas fosse até 250 m2, que, por exemplo, custasse R$ 25.000,00, estaria praticamente isento de qualquer imposto. Pagaria apenas uma taxa simbólica de R$ 10,00. Se a soma das áreas estivesse entre 251 m2 e 300 m2, ele pagaria 1% de imposto; se a soma estivesse entre 301 m2 e 500 m2, pagaria 2%; se estivesse entre 501 e 750 m2, 3%; entre 751 m2 e 1.000 m2, 4%; e assim por diante, de 500 em 500 metros, até atingir a taxa máxima de 10%. Voltemos ao exemplo do cidadão que tinha apenas um terreno e pagaria R$ 10,00; se o terreno fosse de 300 m2, pagaria 1% ou R$ 300,00; se ele tivesse 2 terrenos, no valor total de R$ 50.000,00, portanto 500 m2, pagaria 1% ou R$ 500,00; se tivesse 3 terrenos, R$ 1.500,00; 4 terrenos, R$ 3.000,00. Gostaria de chamar a atenção que minha proposta não atinge pequenos proprietários, que querem apenas construir sua morada e trabalhar, mas sim quem acumula e fica com o dinheiro parado. Ao contrário de ser comunista ou socialista, ela é capitalista!, pois faz o dinheiro andar e distribuir-se. Faça as contas com as suas propriedades e com as de outros de sua cidade que deixam seus imóveis parados para valorizar e ficar de herança para filhos que nada fazem por merecê-los ou ainda acumulam um monte de imóveis para alugar. Para aluguéis valeriam regras parecidas: imóvel alugado iria para o imposto acumulado progressivamente do inquilino; se retido com o proprietário, somaria aos seus imóveis (veja os detalhes na página da Internet)”.
Mais tarde fiz as contas e fiquei impressionado com a simplicidade e praticidade da proposta do tal candidato da voz divina. E ele continuou:
“A segunda proposta, refere-se à herança. Lembram-se de quando Reis deixavam aos Príncipes seu governo e sua fortuna? Justo? Em geral os Príncipes não tinham preparo e competência para gerir tudo que herdaram. Na minha proposta, as heranças teriam a mesma progressividade de impostos. Pequenas heranças, praticamente não seriam taxadas, mas, conforme o valor deixado fosse crescendo, as taxas seriam enormes, limitando assim com quanto cada pessoa começaria sua vida. Resumindo, quer ser rico, trabalhe. A vida começaria mais ou menos igual para todos. A medida do progresso de cada um seria a sua capacidade, seu empenho, e não o fato de ter tido pais capazes, empenhados e ricos – a herança, além de provocar desigualdade, dá poder a um monte de pessoas incompetentes!. As propostas que apresentarei depois, referem-se à educação, ao trabalho, à saúde e à aposentadoria.”
Justo! - pensei eu. Não valeria muito a pena trabalhar que nem louco para acumular grandes fortunas.  Mudaria o conceito de viver de quase todo mundo. Só valeria a pena ter o que pudesse ser realmente consumido. Gostei deste candidato.
Serenado, voltei a dormir. Desta vez descansei. Dormi apenas mais quinze minutos e, quando voltei acordar, ainda estava no horário político, mas, de novo, o rádio estava chiando com os habituais discursos antigos.
Infelizmente, não anotei o número e nome do candidato, nem a sua página na Internet.
Caro (e)Leitor, vou votar no último horário. Se alguém, em tempo, souber quem é o tal, avise-me o quanto antes, pois é nele, e só nele, que votarei.
Vote você em quem votar, bom voto!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Em Cantos

Em meu canto tem um canto
Em que canto o teu canto
Pranto pronto que encontro
Ponto a ponto eu me espanto
Com o ponto em que apontas
Em que canto de teu canto
Tu te encantas com meu canto
 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Livrai-nos de todo o mal

"Livrai-nos do mal”, reza o Pai Nosso, Mateus (6, 9-13). Mas, mais que crer e confiar em Deus, há de se dar-Lhe uma mãozinha. Em outras palavras, previna-se do mal.
Como o mundo “aumentou”, o mal não está mais apenas ao alcance de sua vista e de seus passos.  É, meu caro, o mundo, e o mal também, globalizaram-se. Ele não se resume mais aos seus vizinhos, amigos de escola e trabalho e um ou outro parente fora que costumávamos visitar, pois, além das distâncias físicas terem encurtado, o mundo tornou-se virtual. Seja para o bem ou para o mal, as pessoas estão mais próximas, encontram-se mais, suas vidas estão mais públicas.
Antes você conhecia de alguém, talvez um(a) pretendente, os pais, irmãos, notas da escola; agora muitos de seus “amigos” você nunca os viu pessoalmente. Alie-se a isso um grande teatro que proporciona a televisão e as novelas em particular: as pessoas não sabem o que dizem, mas sabem dizer; comportam-se como se fossem dirigidos, algo como se participassem de uma peça de teatro ou um reality show; não entendem a piada, mas sabem que é o momento de rir.
E como se prevenir disso?
Há alguns anos li um livro chamado Decifrar Pessoas (Reading People), escrito por uma advogada especialista em escolha de jurados para a defesa. Ela diz que todo mundo se entrega. Uma rápida leitura das pessoas, considerando, claro, vários fatores como roupa, cabelo, acessórios, gosto musical, hábitos do dia-a-dia, companhias (dize-me com quem andas...), ligações familiares e afetivas, emprego, fotos e frases em perfis públicos (Orkut, facebook, Twitter...) e tantas outras, dizem quem as pessoas realmente são. Há chances de se enganar? Claro que há, mas, em geral, engana-se quem quer ser enganado. Enganam-se os carentes, os desonestos, que querem tirar vantagem, os muito ingênuos, mas, aqui ou ali, podemos nos enganar todos nós.
Mas vai aí uma dica infalível: a melhor prevenção é a prevenir-se de si mesmo. Revise seu “perfil”, público ou não. Pergunte a você mesmo com quem você anda. Preste atenção ao que diz, de quem diz e como diz. Perceba seus assuntos: você fica falando de nada? (tempo, políticos, o assunto da moda dos jornais...); fala dos outros? (o assunto da moda nos jornais, do vizinho, de parentes...); ou fala de idéias e ideais? Procura usar bem seu tempo e seus recursos, para o bem? Mesmo sem esperança que haja um juízo final ou reencarnações, você tenta fazer e deixar um mundo melhor por onde passa? Faz diariamente um mea culpa? E, principalmente, tem respeito pelas coisas? Respeita a roupa que usa, a comida que come, os objetos vivos ou não que fazem parte de sua vida? Respeita seu corpo quanto ao que come? Quanto às horas de repouso que ele precisa? Tem respeito por amigos e familiares quando neles pensa? Perdoa suas ofensas?
É isso aí:
O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido;
e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal. Amém!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sugestões Eleitorais

Sei que a maioria está cansada de eleições, de horário gratuito e de políticos. Não é pra menos. Conversando aqui e ali, vi que muitos defendem um candidato, outros, outro; uns dizem que eleição não adianta de nada, pois, no final das contas, todo político depois que chega ao poder trabalha apenas para se manter lá. Principalmente, o que percebi, é que a maioria não queria mais votar mesmo, não fosse obrigatório. E essa é uma posição que tende aumentar.

Modestamente, depois de conversar com amigos, acho que algumas regras deveriam mudar para que as eleições sejam mais justas e reflitam a opinião do povo ou, ao menos, imprevisíveis e divertidas.
A primeira medida seria tornar as eleições não obrigatórias, vota quem quer, mas quem votar teria suas vantagens. Poderia, por exemplo, concorrer a prêmios. E para tornar mais interessante e imprevisível a eleição, dou a seguinte sugestão: os eleitores do candidato menos votado concorreriam a casas, carros e eletro domésticos. Valeria apenas para os cargos do executivo (Prefeito, Governador e Presidente). Por exemplo, aqueles que votaram no governador menos votado, concorreriam a uma casa, 5 carros e diversos televisores, geladeiras etc. O efeito colateral desta medida é que os interessados prestariam atenção aos concorrentes. Queria ver assim as previsões do Ibope.
Uma parte dos cargos do legislativo (Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal e Senador), digamos 25%, seriam escolhidos por sorteio. Quando tira seu título, o Eleitor decide se aceita concorrer ou não. Imagine-se, caro leitor, você está lá votando e a urna começa a apitar e sai a mensagem que você foi eleito para Deputado Federal, com salário, assessores, passagens aéreas e demais verbas de representação. Mas, atentem, quem se candidatou não pode ser sorteado. Convenhamos, melhoraria bem o nível, não? Tome como exemplo a Câmara de uma cidade com vinte vereadores. Cinco entrariam ao acaso.
Os votos poderiam deixar de ser secreto, desta forma quem votou no Candidato poderia referendá-lo... ou não. Uma espécie de desvoto que deselegeria aqueles que não correspondessem. Já pensou no medão dos eleitos?
Mas a melhor de todas é o voto contra. Funciona assim: você já vota a favor de um candidato (ou branco, ou nulo). Agora, além de votar a favor de um, votaria contra outro. Explico: você votaria em A para Presidente e contra B. O resultado final seria o saldo de votos obtidos pelo candidato. E mais, se o candidato ficar com saldo negativo, ele já entra nas próximas eleições com esse saldo, seja lá o cargo que concorra. Perceba que muitos políticos já teriam desistido há muito. O slogan de alguns seria: “Ajude-me a zerar os meus votos”. Os partidos também seriam mais sérios: caso você não saiba, o número de cadeiras no legislativo é proporcional aos votos do partido, assim, com os votos negativos, os partidos não lançariam vários dos candidatos que temos hoje.
Seria incluído para todos os cargos a opção NDC (Nenhum Desses Candidatos) com o número 0 (zero). Esta alternativa contaria como menos um voto para todos os candidatos àquele cargo. Há quem sugerisse que a sigla fosse NDFDP ou VTAPQP e outros tantos que é melhor nem citar.


Agora, talvez você me pergunte: “Você acha mesmo que essas medidas melhorariam?”.
Não. Sinceramente, acho que não. Mas, ao menos, durante um tempinho, riríamos deles, assim como eles se divertem às nossas custas.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fusca Verde

Outro dia meus filhos apareceram com uma novidade (eles sempre têm uma): quem visse um fusca verde poderia beliscar o outro e fazer um desejo. Rapidamente pensei, nesses tempos em que o governo brinca de Robin Hood ao contrário, quando carro financiado em até 80 meses é mais barato que à vista!, quem vai encontrar um fusca, ainda mais verde, rodando por aí? Ledo engano, caro leitor. Ledo engano.
Mal feito o trato, eu conduzindo meu carro, cada um viu um, levei dois beliscões e eles tiveram seus desejos secretos. Andando pelas ruas, os fuscas verdes começaram a brotar de todos os lugares, as pencas, nos mais variados tons, inclusive alguns pastéis duvidosos que geraram discussões ópticas.
Com o tempo começamos memorizar onde havia fuscas verdes em estacionamentos, garagens, ruas e tudo mais. Houve quem quisesse levar alguma vantagem, sabendo os lugares, anunciando o dito fusca antes que fosse visto. Mas, civilizados, estabelecemos regras que vigoram bem.
É claro, também, que eu, como motorista oficial, posso escolher os caminhos que levam de um ponto a outro da cidade, mas nem sempre isso se apresenta como ganho, já que filhos têm olhos e ouvidos melhores para o que querem ver e ouvir.
Veio mais uma novidade: fusca rosa, dez beliscões e dez desejos!
Eu, para dar um pouco mais de emoção, sugeri que um fusca preto anulasse os desejos ainda não concedidos, mas minha filha prontamente respondeu: “Cê tá louco, pai?” – com um ar perplexo que quase fez com que me sentisse mal.
O mais incrível da história é que, sempre que me lembro de fazer o desejo, e tem alguém do lado beliscável (cuidado, cuidado!), funciona, acontece! É fato que nenhum de nós, até onde eu saiba, pediu para ganhar na mega ou encontrar o grande amor. Mas quase todos os desejos que fiz, aconteceram ou, estou certo, vão acontecer.
Apesar de passar a maior parte do dia sentado em minha sala trabalhando, é comum ver mais de dez fuscas verdes por dia, às vezes quinze ou vinte! Contando com branco, amarelo, azul, ocre-mararajó, vermelho... somam uma quantidade inimagináveis de fuscas que existem aqui e nas demais cidades.
Conversando, chegamos a algumas conclusões: há mais fuscas verdes entre um bairro e outro do que imagina sua vã filosofia, basta apenas querer vê-los; desejos bem formulados são (quase) sempre atendidos; e pôr fuscas pretos na brincadeira não é um bom negócio (crianças são sábias!).
Portanto, meus caros, fica a sugestão: atenção aos fuscas verdes – eles existem! Agora, fusca rosa... Fusca rosa é outra coisa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Como começar um texto


Há dois grandes problemas para quem escreve: começar e, principalmente, terminar bem um texto.
Acredite, terminar é bem mais difícil, mas muitas vezes nem notamos, pois sequer conseguimos começá-lo.
Vou usar como exemplo o texto que escrevo agora: começa-se um texto pelo fim, ou seja, por o que se quer dizer.
Este texto é resposta a uma aluna que me fez a pergunta que me serve como título: “Eu me sento para escrever, mas fico enrolando. Quando vou começar, a idéias somem. Como faço para começar um texto?”.
Eu me pus a pensar em quando quero escrever, no que me motiva. Em geral tenho uma idéia ou necessidade que me guia, que serve de inspiração; penso no que sei sobre o assunto, ordeno mentalmente esses pensamentos; penso em quem iria ler o texto e como prendê-lo, primeiro com o título e, em seguida, no primeiro parágrafo com algo que faça meu leitor surpreender-se e/ou pensar junto comigo (veja o título e o primeiro parágrafo); a partir daí desenvolvo a idéia tentando fazer o leitor seguir junto de mim.
Se você está acompanhando meu raciocínio agora, significa que tive êxito e meu texto está ficando bom, caso contrário...
Note que o título prende quem tem a necessidade de escrever e depara com o problema de sair da inércia frente ao computador ou o papel. Em seguida, o texto apresenta outro grande problema para quem começa escrever, como e quando terminar o que está escrito.
Vamos pensar juntos: qual o objetivo de um texto? É o começo? O fim? Ou o título? Você entende do que está escrevendo? Se não sabe as repostas, sabe ao menos a perguntas certas? (Releia as perguntas e pense um pouco antes de prosseguir).
Respondendo essas perguntas, é fácil perceber que tanto o começo como o fim do texto são bons acessórios para prender o leitor e fazê-lo se lembrar do que foi dito mais tarde, assim como um bom título. Porém, o mais importante é seu conteúdo e as formas de “convencer” o leitor.
Note agora, caro leitor, que acabei de contradizer o que disse no primeiro parágrafo! Por quê?
Porque acredito que o começo e o fim apresentam dificuldades por nos faltarem idéias e conteúdos para escrever. Só isso!
Vou fazer um resumo: tenha um tema (seu ou proposto por outro); pense e converse um pouco sobre a idéia (veja se você tem realmente algo a dizer que dê algum acréscimo a alguém); pense em possíveis públicos para seu texto; o título e primeiro parágrafo servem para prender o leitor, mas tem que ser honestos e estarem presos ao conteúdo; e o fim deve apresentar algo que surpreenda (quando possível) ou marque o texto para que o leitor possa lembrar-se com prazer.
Agora, se meus conselhos aqui não servirem, siga os de Pablo Neruda: “Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as idéias”.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

É quase tudo verdade!

Eu estava sentado pensando um título para meu livro. A velhinha, com ar de “sapeca”, olhava, olhava... Até que se aproximou:
- Gosto muito do que você escreve. Não perco um domingo no jornal.
Agradeci. E como ela ainda me olhava, perguntei:
- A senhora se lembra de qual gostou mais?
- Do da cobra... Foi como perdi a virgindade...
Segurei o riso, sem saber o que dizer.
- Nossa! Mas sua vida é agitada! – disse ela.
Entendia agora suas entrelinhas, o ar de “sapeca”.
- Não! Não! É tudo inventado. É tudo mentira.
- Inventado? Mentira? – Ela, decepcionada.
- Bem... Mais ou menos. É quase tudo mentira.
- Então... É quase tudo verdade! – com cara de quem sabia mais que mim que eu próprio.
Ela lera todos meus contos e sabia do que falava!
- É quase tudo quase mentira! – retruquei, procurando não perder o rebolado.
- Fica assim: é quase tudo quase verdade – concluiu , sem saber o presente que me dava.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Separaram-se

Ilustração: Carla Panini

Não há bem que sempre dure
Dizem
Separou-se parece mais preciso
Por partir de um a proposta
Mas, aceita...
Separaram-se
Quando um não quer...
Dois não amam
No mais largo sentido da palavra
Separaram-se
Não se desejaram mal
Nem bem, é verdade
Fracassos futuros fariam ver que
“o bem estava bem ao seu lado, meu bem”
Separaram-se com certo alívio
De chuva em tardes quentes
Separaram-se
Sem medir que na primeira manhã
Buscariam braços e bocas
Procurariam pernas e pés
Umas dentro
De outras em voltas
Separaram-se
Como óleo e água
Talvez nunca tenham se unidos
Separaram-se
De corpo e... (hum)
A alma demora um pouco mais
Separaram-se
Sem saber sextas e sábados
Tênues tardes de domingo
Separaram-se
Quiseram-se bem
Quiseram-se mal
E como
Não há mal que nunca acabe
Separaram-se