terça-feira, 28 de setembro de 2010

Em quem vou votar

Mal havia me deitado para dormir e o rádio-relógio já despertava. A noite, além de curta, fora agitada por sonhos malucos e cansativos. E ainda era acordado por um rádio meio fora de sintonia, chiado, cheio de vinhetas e homens falando no horário político. Minha vontade era de levantar rápido e parar com aquele novo pesadelo, mas não conseguia, ficava entre dormir e acordar.
De repente o som do rádio ficou claro, a voz que vinha, grave e suave, dava prazer em ouvir, a música de fundo, se houvesse, estava em perfeita sintonia com a fala. Acho que se Deus falasse um dia comigo, teria aquela voz, aquela entonação.
Apesar do prazer em ouvir aquela voz suave que ocupava todos os espaços de meu quarto, o discurso era o mesmo:
“Sei que vocês estão cansados de políticos que prometem, prometem e nada cumprem...”.
Já sei, você não vai prometer nada. E a novidade? – Pensei
“Eu não vim lhes prometer nada. Vocês devem estar se perguntando, então, o que estou fazendo aqui. Bem, vim dizer, no curto tempo que tenho, quais são minhas propostas eleitorais. Tenho quatro propostas que mudariam tudo. Mudariam o País e quem sabe o mundo e daria um novo rumo a tudo. Hoje só vou poder apresentar duas, as econômicas, mas, nos próximos programas apresentarei a demais, as sociais.”.
Nesse momento, resolvi parar com as minhas considerações e ouvir atentamente o que tinha a dizer o candidato megalomaníaco com voz divina.
“Só poderei aqui apresentar um resumo da idéia. A proposta completa esta em minha página na Internet. A minha primeira proposta é a seguinte: faremos uma total mudança em como o governo arrecada. Vamos diminuir todo tipo de impostos sobre os salários, sobre os serviços e sobre a produção. Os impostos viriam principalmente sobre as propriedades urbanas e rurais. Tome como exemplo uma cidade. Seriam somados todos os terrenos de cada proprietário. Uma pessoa cuja soma das áreas fosse até 250 m2, que, por exemplo, custasse R$ 25.000,00, estaria praticamente isento de qualquer imposto. Pagaria apenas uma taxa simbólica de R$ 10,00. Se a soma das áreas estivesse entre 251 m2 e 300 m2, ele pagaria 1% de imposto; se a soma estivesse entre 301 m2 e 500 m2, pagaria 2%; se estivesse entre 501 e 750 m2, 3%; entre 751 m2 e 1.000 m2, 4%; e assim por diante, de 500 em 500 metros, até atingir a taxa máxima de 10%. Voltemos ao exemplo do cidadão que tinha apenas um terreno e pagaria R$ 10,00; se o terreno fosse de 300 m2, pagaria 1% ou R$ 300,00; se ele tivesse 2 terrenos, no valor total de R$ 50.000,00, portanto 500 m2, pagaria 1% ou R$ 500,00; se tivesse 3 terrenos, R$ 1.500,00; 4 terrenos, R$ 3.000,00. Gostaria de chamar a atenção que minha proposta não atinge pequenos proprietários, que querem apenas construir sua morada e trabalhar, mas sim quem acumula e fica com o dinheiro parado. Ao contrário de ser comunista ou socialista, ela é capitalista!, pois faz o dinheiro andar e distribuir-se. Faça as contas com as suas propriedades e com as de outros de sua cidade que deixam seus imóveis parados para valorizar e ficar de herança para filhos que nada fazem por merecê-los ou ainda acumulam um monte de imóveis para alugar. Para aluguéis valeriam regras parecidas: imóvel alugado iria para o imposto acumulado progressivamente do inquilino; se retido com o proprietário, somaria aos seus imóveis (veja os detalhes na página da Internet)”.
Mais tarde fiz as contas e fiquei impressionado com a simplicidade e praticidade da proposta do tal candidato da voz divina. E ele continuou:
“A segunda proposta, refere-se à herança. Lembram-se de quando Reis deixavam aos Príncipes seu governo e sua fortuna? Justo? Em geral os Príncipes não tinham preparo e competência para gerir tudo que herdaram. Na minha proposta, as heranças teriam a mesma progressividade de impostos. Pequenas heranças, praticamente não seriam taxadas, mas, conforme o valor deixado fosse crescendo, as taxas seriam enormes, limitando assim com quanto cada pessoa começaria sua vida. Resumindo, quer ser rico, trabalhe. A vida começaria mais ou menos igual para todos. A medida do progresso de cada um seria a sua capacidade, seu empenho, e não o fato de ter tido pais capazes, empenhados e ricos – a herança, além de provocar desigualdade, dá poder a um monte de pessoas incompetentes!. As propostas que apresentarei depois, referem-se à educação, ao trabalho, à saúde e à aposentadoria.”
Justo! - pensei eu. Não valeria muito a pena trabalhar que nem louco para acumular grandes fortunas.  Mudaria o conceito de viver de quase todo mundo. Só valeria a pena ter o que pudesse ser realmente consumido. Gostei deste candidato.
Serenado, voltei a dormir. Desta vez descansei. Dormi apenas mais quinze minutos e, quando voltei acordar, ainda estava no horário político, mas, de novo, o rádio estava chiando com os habituais discursos antigos.
Infelizmente, não anotei o número e nome do candidato, nem a sua página na Internet.
Caro (e)Leitor, vou votar no último horário. Se alguém, em tempo, souber quem é o tal, avise-me o quanto antes, pois é nele, e só nele, que votarei.
Vote você em quem votar, bom voto!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Em Cantos

Em meu canto tem um canto
Em que canto o teu canto
Pranto pronto que encontro
Ponto a ponto eu me espanto
Com o ponto em que apontas
Em que canto de teu canto
Tu te encantas com meu canto
 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Livrai-nos de todo o mal

"Livrai-nos do mal”, reza o Pai Nosso, Mateus (6, 9-13). Mas, mais que crer e confiar em Deus, há de se dar-Lhe uma mãozinha. Em outras palavras, previna-se do mal.
Como o mundo “aumentou”, o mal não está mais apenas ao alcance de sua vista e de seus passos.  É, meu caro, o mundo, e o mal também, globalizaram-se. Ele não se resume mais aos seus vizinhos, amigos de escola e trabalho e um ou outro parente fora que costumávamos visitar, pois, além das distâncias físicas terem encurtado, o mundo tornou-se virtual. Seja para o bem ou para o mal, as pessoas estão mais próximas, encontram-se mais, suas vidas estão mais públicas.
Antes você conhecia de alguém, talvez um(a) pretendente, os pais, irmãos, notas da escola; agora muitos de seus “amigos” você nunca os viu pessoalmente. Alie-se a isso um grande teatro que proporciona a televisão e as novelas em particular: as pessoas não sabem o que dizem, mas sabem dizer; comportam-se como se fossem dirigidos, algo como se participassem de uma peça de teatro ou um reality show; não entendem a piada, mas sabem que é o momento de rir.
E como se prevenir disso?
Há alguns anos li um livro chamado Decifrar Pessoas (Reading People), escrito por uma advogada especialista em escolha de jurados para a defesa. Ela diz que todo mundo se entrega. Uma rápida leitura das pessoas, considerando, claro, vários fatores como roupa, cabelo, acessórios, gosto musical, hábitos do dia-a-dia, companhias (dize-me com quem andas...), ligações familiares e afetivas, emprego, fotos e frases em perfis públicos (Orkut, facebook, Twitter...) e tantas outras, dizem quem as pessoas realmente são. Há chances de se enganar? Claro que há, mas, em geral, engana-se quem quer ser enganado. Enganam-se os carentes, os desonestos, que querem tirar vantagem, os muito ingênuos, mas, aqui ou ali, podemos nos enganar todos nós.
Mas vai aí uma dica infalível: a melhor prevenção é a prevenir-se de si mesmo. Revise seu “perfil”, público ou não. Pergunte a você mesmo com quem você anda. Preste atenção ao que diz, de quem diz e como diz. Perceba seus assuntos: você fica falando de nada? (tempo, políticos, o assunto da moda dos jornais...); fala dos outros? (o assunto da moda nos jornais, do vizinho, de parentes...); ou fala de idéias e ideais? Procura usar bem seu tempo e seus recursos, para o bem? Mesmo sem esperança que haja um juízo final ou reencarnações, você tenta fazer e deixar um mundo melhor por onde passa? Faz diariamente um mea culpa? E, principalmente, tem respeito pelas coisas? Respeita a roupa que usa, a comida que come, os objetos vivos ou não que fazem parte de sua vida? Respeita seu corpo quanto ao que come? Quanto às horas de repouso que ele precisa? Tem respeito por amigos e familiares quando neles pensa? Perdoa suas ofensas?
É isso aí:
O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido;
e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal. Amém!