quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sugestões Eleitorais

Sei que a maioria está cansada de eleições, de horário gratuito e de políticos. Não é pra menos. Conversando aqui e ali, vi que muitos defendem um candidato, outros, outro; uns dizem que eleição não adianta de nada, pois, no final das contas, todo político depois que chega ao poder trabalha apenas para se manter lá. Principalmente, o que percebi, é que a maioria não queria mais votar mesmo, não fosse obrigatório. E essa é uma posição que tende aumentar.

Modestamente, depois de conversar com amigos, acho que algumas regras deveriam mudar para que as eleições sejam mais justas e reflitam a opinião do povo ou, ao menos, imprevisíveis e divertidas.
A primeira medida seria tornar as eleições não obrigatórias, vota quem quer, mas quem votar teria suas vantagens. Poderia, por exemplo, concorrer a prêmios. E para tornar mais interessante e imprevisível a eleição, dou a seguinte sugestão: os eleitores do candidato menos votado concorreriam a casas, carros e eletro domésticos. Valeria apenas para os cargos do executivo (Prefeito, Governador e Presidente). Por exemplo, aqueles que votaram no governador menos votado, concorreriam a uma casa, 5 carros e diversos televisores, geladeiras etc. O efeito colateral desta medida é que os interessados prestariam atenção aos concorrentes. Queria ver assim as previsões do Ibope.
Uma parte dos cargos do legislativo (Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal e Senador), digamos 25%, seriam escolhidos por sorteio. Quando tira seu título, o Eleitor decide se aceita concorrer ou não. Imagine-se, caro leitor, você está lá votando e a urna começa a apitar e sai a mensagem que você foi eleito para Deputado Federal, com salário, assessores, passagens aéreas e demais verbas de representação. Mas, atentem, quem se candidatou não pode ser sorteado. Convenhamos, melhoraria bem o nível, não? Tome como exemplo a Câmara de uma cidade com vinte vereadores. Cinco entrariam ao acaso.
Os votos poderiam deixar de ser secreto, desta forma quem votou no Candidato poderia referendá-lo... ou não. Uma espécie de desvoto que deselegeria aqueles que não correspondessem. Já pensou no medão dos eleitos?
Mas a melhor de todas é o voto contra. Funciona assim: você já vota a favor de um candidato (ou branco, ou nulo). Agora, além de votar a favor de um, votaria contra outro. Explico: você votaria em A para Presidente e contra B. O resultado final seria o saldo de votos obtidos pelo candidato. E mais, se o candidato ficar com saldo negativo, ele já entra nas próximas eleições com esse saldo, seja lá o cargo que concorra. Perceba que muitos políticos já teriam desistido há muito. O slogan de alguns seria: “Ajude-me a zerar os meus votos”. Os partidos também seriam mais sérios: caso você não saiba, o número de cadeiras no legislativo é proporcional aos votos do partido, assim, com os votos negativos, os partidos não lançariam vários dos candidatos que temos hoje.
Seria incluído para todos os cargos a opção NDC (Nenhum Desses Candidatos) com o número 0 (zero). Esta alternativa contaria como menos um voto para todos os candidatos àquele cargo. Há quem sugerisse que a sigla fosse NDFDP ou VTAPQP e outros tantos que é melhor nem citar.


Agora, talvez você me pergunte: “Você acha mesmo que essas medidas melhorariam?”.
Não. Sinceramente, acho que não. Mas, ao menos, durante um tempinho, riríamos deles, assim como eles se divertem às nossas custas.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fusca Verde

Outro dia meus filhos apareceram com uma novidade (eles sempre têm uma): quem visse um fusca verde poderia beliscar o outro e fazer um desejo. Rapidamente pensei, nesses tempos em que o governo brinca de Robin Hood ao contrário, quando carro financiado em até 80 meses é mais barato que à vista!, quem vai encontrar um fusca, ainda mais verde, rodando por aí? Ledo engano, caro leitor. Ledo engano.
Mal feito o trato, eu conduzindo meu carro, cada um viu um, levei dois beliscões e eles tiveram seus desejos secretos. Andando pelas ruas, os fuscas verdes começaram a brotar de todos os lugares, as pencas, nos mais variados tons, inclusive alguns pastéis duvidosos que geraram discussões ópticas.
Com o tempo começamos memorizar onde havia fuscas verdes em estacionamentos, garagens, ruas e tudo mais. Houve quem quisesse levar alguma vantagem, sabendo os lugares, anunciando o dito fusca antes que fosse visto. Mas, civilizados, estabelecemos regras que vigoram bem.
É claro, também, que eu, como motorista oficial, posso escolher os caminhos que levam de um ponto a outro da cidade, mas nem sempre isso se apresenta como ganho, já que filhos têm olhos e ouvidos melhores para o que querem ver e ouvir.
Veio mais uma novidade: fusca rosa, dez beliscões e dez desejos!
Eu, para dar um pouco mais de emoção, sugeri que um fusca preto anulasse os desejos ainda não concedidos, mas minha filha prontamente respondeu: “Cê tá louco, pai?” – com um ar perplexo que quase fez com que me sentisse mal.
O mais incrível da história é que, sempre que me lembro de fazer o desejo, e tem alguém do lado beliscável (cuidado, cuidado!), funciona, acontece! É fato que nenhum de nós, até onde eu saiba, pediu para ganhar na mega ou encontrar o grande amor. Mas quase todos os desejos que fiz, aconteceram ou, estou certo, vão acontecer.
Apesar de passar a maior parte do dia sentado em minha sala trabalhando, é comum ver mais de dez fuscas verdes por dia, às vezes quinze ou vinte! Contando com branco, amarelo, azul, ocre-mararajó, vermelho... somam uma quantidade inimagináveis de fuscas que existem aqui e nas demais cidades.
Conversando, chegamos a algumas conclusões: há mais fuscas verdes entre um bairro e outro do que imagina sua vã filosofia, basta apenas querer vê-los; desejos bem formulados são (quase) sempre atendidos; e pôr fuscas pretos na brincadeira não é um bom negócio (crianças são sábias!).
Portanto, meus caros, fica a sugestão: atenção aos fuscas verdes – eles existem! Agora, fusca rosa... Fusca rosa é outra coisa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Como começar um texto


Há dois grandes problemas para quem escreve: começar e, principalmente, terminar bem um texto.
Acredite, terminar é bem mais difícil, mas muitas vezes nem notamos, pois sequer conseguimos começá-lo.
Vou usar como exemplo o texto que escrevo agora: começa-se um texto pelo fim, ou seja, por o que se quer dizer.
Este texto é resposta a uma aluna que me fez a pergunta que me serve como título: “Eu me sento para escrever, mas fico enrolando. Quando vou começar, a idéias somem. Como faço para começar um texto?”.
Eu me pus a pensar em quando quero escrever, no que me motiva. Em geral tenho uma idéia ou necessidade que me guia, que serve de inspiração; penso no que sei sobre o assunto, ordeno mentalmente esses pensamentos; penso em quem iria ler o texto e como prendê-lo, primeiro com o título e, em seguida, no primeiro parágrafo com algo que faça meu leitor surpreender-se e/ou pensar junto comigo (veja o título e o primeiro parágrafo); a partir daí desenvolvo a idéia tentando fazer o leitor seguir junto de mim.
Se você está acompanhando meu raciocínio agora, significa que tive êxito e meu texto está ficando bom, caso contrário...
Note que o título prende quem tem a necessidade de escrever e depara com o problema de sair da inércia frente ao computador ou o papel. Em seguida, o texto apresenta outro grande problema para quem começa escrever, como e quando terminar o que está escrito.
Vamos pensar juntos: qual o objetivo de um texto? É o começo? O fim? Ou o título? Você entende do que está escrevendo? Se não sabe as repostas, sabe ao menos a perguntas certas? (Releia as perguntas e pense um pouco antes de prosseguir).
Respondendo essas perguntas, é fácil perceber que tanto o começo como o fim do texto são bons acessórios para prender o leitor e fazê-lo se lembrar do que foi dito mais tarde, assim como um bom título. Porém, o mais importante é seu conteúdo e as formas de “convencer” o leitor.
Note agora, caro leitor, que acabei de contradizer o que disse no primeiro parágrafo! Por quê?
Porque acredito que o começo e o fim apresentam dificuldades por nos faltarem idéias e conteúdos para escrever. Só isso!
Vou fazer um resumo: tenha um tema (seu ou proposto por outro); pense e converse um pouco sobre a idéia (veja se você tem realmente algo a dizer que dê algum acréscimo a alguém); pense em possíveis públicos para seu texto; o título e primeiro parágrafo servem para prender o leitor, mas tem que ser honestos e estarem presos ao conteúdo; e o fim deve apresentar algo que surpreenda (quando possível) ou marque o texto para que o leitor possa lembrar-se com prazer.
Agora, se meus conselhos aqui não servirem, siga os de Pablo Neruda: “Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as idéias”.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

É quase tudo verdade!

Eu estava sentado pensando um título para meu livro. A velhinha, com ar de “sapeca”, olhava, olhava... Até que se aproximou:
- Gosto muito do que você escreve. Não perco um domingo no jornal.
Agradeci. E como ela ainda me olhava, perguntei:
- A senhora se lembra de qual gostou mais?
- Do da cobra... Foi como perdi a virgindade...
Segurei o riso, sem saber o que dizer.
- Nossa! Mas sua vida é agitada! – disse ela.
Entendia agora suas entrelinhas, o ar de “sapeca”.
- Não! Não! É tudo inventado. É tudo mentira.
- Inventado? Mentira? – Ela, decepcionada.
- Bem... Mais ou menos. É quase tudo mentira.
- Então... É quase tudo verdade! – com cara de quem sabia mais que mim que eu próprio.
Ela lera todos meus contos e sabia do que falava!
- É quase tudo quase mentira! – retruquei, procurando não perder o rebolado.
- Fica assim: é quase tudo quase verdade – concluiu , sem saber o presente que me dava.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Separaram-se

Ilustração: Carla Panini

Não há bem que sempre dure
Dizem
Separou-se parece mais preciso
Por partir de um a proposta
Mas, aceita...
Separaram-se
Quando um não quer...
Dois não amam
No mais largo sentido da palavra
Separaram-se
Não se desejaram mal
Nem bem, é verdade
Fracassos futuros fariam ver que
“o bem estava bem ao seu lado, meu bem”
Separaram-se com certo alívio
De chuva em tardes quentes
Separaram-se
Sem medir que na primeira manhã
Buscariam braços e bocas
Procurariam pernas e pés
Umas dentro
De outras em voltas
Separaram-se
Como óleo e água
Talvez nunca tenham se unidos
Separaram-se
De corpo e... (hum)
A alma demora um pouco mais
Separaram-se
Sem saber sextas e sábados
Tênues tardes de domingo
Separaram-se
Quiseram-se bem
Quiseram-se mal
E como
Não há mal que nunca acabe
Separaram-se