quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quase um filme americano

Eu tenho sorte: no bar lotado no sábado à noite há uma vaga bem em frente para meu vermelho importado da Alemanha. A vaga apertada é entre dois carros também importados. Eu tenho sorte e todos vão poder me ver descendo do meu carro vermelho importado e abrir a porta para minha nova garota alta loira e bonita.
Mesmo no bar lotado na noite quente de sábado há uma mesa para mim em um lugar que todos podem me ver acompanhado de uma bela garota perfumada alta e bonita. Eu faço minha sorte: sou amigo do dono do bar e dou boas gorjetas para os garçons me arrumarem uma mesa na calçada para eu tomar um doze anos importado no calor nacional onde todos podem me ver acompanhado e eu posso ver meu lindo carro importado que dentro tem uma arma que me protege nestes dias inseguros quando todos querem tomar o que é meu.
O bar está movimentado de ricos em carros bonitos com moças bonitas. O meu carro importado vermelho é mais bonito e a minha moça alta de peitos grandes é mais gostosa. Todos olham para ela e meu carro importado onde dentro tem uma Taurus ponto 40 com treze balas no pente e uma na agulha.
Os três moços da mesa ao lado um preto e dois brancos olham para meu carro e minha garota alta com inveja. Só os ricos bem sucedidos como eu podem ter carros importados e moças bonitas mais altas.
Eles não se conformam e por isso se levantam e de arma em punho põem todos para dentro para roubar o que é nosso e o dinheiro de meu amigo suíço dono do bar. Eles gritam com todos e todos gritam e se calam. “Se desse tempo de pegar minha pistola”. Mas eu faço minha sorte: na confusão ligo para a polícia e rapidamente digo “Assalto na Casa do Café". Eles vão chegar logo e queimar esses putos no bar lotado. O ladrão preto vem em minha direção olha para minha garota gostosa e toma a chave do meu vermelho importado. A polícia vê tudo e não atira neles. A polícia não vai atrás deles. Se desse tempo eu mesmo queimava todos eles. Eu tenho vontade de bater no filho da puta do meganha prevaricador. Eu dou um murro na cara do corno que deixou os ladrões fugirem com meu carro importado vermelho da Alemanha e toda a grana do meu amigo importado da suíça e quem é preso sou eu!
Os ladrões fogem com meu carro importado e eu sou preso! Você são todos uns bostas incompetentes. Num país decente já teriam queimado esses filhos da puta e recuperado meu carro e a grana do meu amigo suíço. Vou embora deste país de merda de gente que não se protege. Vou pra Suíça. Vou pros Estados Unidos. Lá eles são ricos. Lá eles protegem os ricos que têm carros importados e namoram loiras altas de olhos claros.
Além de passar a noite na cadeia, tive que ouvir aquele major de bosta me dizer calmo: “O senhor queria que em pleno sábado à noite, em um bar movimentado, nós saíssemos dando tiros e correndo pela cidade atrás de bandidos, pondo a vida de um monte de gente em risco, apenas para recuperar o seu carro... que está no seguro?”.
"Porra! É claro que queria, major de bosta. Essa é a sua obrigação: proteger o que é meu, prender esses bandidos, matar esses putos". Se não me segurassem, eu mesmo pegava uma arma e ia caçar esses putos.
Mas não vou embora desta merda de país. Aqui eu faço minha sorte: sou rico, compro outro amarelo importado da Itália, o Bob me traz outra ponto 40 e arrumo outra loira mais bonita, mais alta que eu. Eu tenho sorte!



Ao André Sant’Anna
Pelo empréstimo de seu   
O vermelho importado de Noé
(100 melhores contos do Século XX)
 
 Referendo de venda de armas (out/2005)

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá você tem e-mail ?