quinta-feira, 26 de junho de 2008

Gol Contra


Ela era casada há vários anos e, desde o namoro, sempre fora fiel. Mas um dia, meio cansada da monotonia, da indiferença do marido de muitos anos, resolveu ter um caso. O eleito era um amigo da família de muito tempo. O oposto, mas oposto mesmo do marido! O marido era alto e forte; o amante inteligente; o marido rico; o amante sonhador; um palmeirense; o outro corintiano. Era diferença demais. O único consenso entre eles era a mulher: bonita e gostosa. Resolveram se reunir para discutir as diferenças e o consenso, em um domingo à tarde. Não era um domingo qualquer, era dia de clássico: Corinthians e Palmeiras.
Ao chegar o amante, ela estava apreensiva, afinal tudo seria possível acontecer. Tudo! Até morte. Tudo! Tudo? Tudo mesmo? Até rolar um ménage a trois? Ela começou imaginar a cena e mal se continha, ela...os dois...ao mesmo tempo! Ai! Suspirava! Para quem há alguns dias não tinha homem nenhum, agora dois, disputando por ela, dois ao mesmo tempo...Ufa!
Seus devaneios foram interrompidos quando da sala, onde ambos haviam se sentado para conversar veio um pedido:
- Bem, traz uma cervejinha! – Disse o marido.
Conversavam, como todas as pessoas civilizadas, sobre amenidades: o tempo, política, carros, religião, enfim conversas que não levam absolutamente a lugar algum. Tinham estrategicamente evitado o futebol.
Ela, previdente, enquanto isso, resolveu arrumar o quarto. Foi até lá e escolheu o melhor lençol de seda, trocou as tolhas do banheiro, ou melhor, colocou seis toalhas limpas, preparou a banheira e os sais, KY, afinal, mulher previdente é assim, nunca é pega de surpresa. Trocou também de roupa, pôs uma saia curta, bem sensual, e uma camisa por uma regata decotada, sem sutiã, que dava o que imaginar.
Novamente, foi interrompida nos seus afazeres e planos com mais um pedido da sala:
- Querida, estica a mão e pega mais uma cervejinha. – Pediu gentilmente o marido.
- E uns copos gelaaados! – Gritou!
Ao voltar, o amante, que já parecia mais à vontade:
- Ah! Aproveita e corta mais uns queijinhos.
De passagem, ela havia notado que o assunto já era o jogo:
- Nós não temos como perder. Montamos um baita esquadrão. - Dizia o corintiano.
- Mas não tem entrosamento. A torcida tem pressionado e não tão jogando nada.- Arguia o palmeirense.
- Senta aqui! – Disse o marido, fazendo sinal para ela se sentar no sofá, entre os dois.
- É. Assista ao jogo com a gente. – Completou o amante animado.
E ela, vestida como estava, certa de que agora realmente agora começaria o jogo, acomodou-se, apertada entre os dois.
Perto do intervalo do primeiro tempo, de um jogo ruim, zero a zero, sem chutes a gol um deles, já não importa mais qual, disse:
- Ô Bem, pega mais uma cerveja pra gente.
Ela levantou-se e convidou:
- Eu vou tomar um banho de banheira. Vocês não querem vir comigo? – Falou com uma voz sensual.
Ao que um deles respondeu, de bate pronto, ao outro:
- Vai você. Eu vou ver o show do intervalo.
- Não. Vai você. Eu não quero perder o começo do segundo tempo.
Ela se levantou e saiu gritando:
- Vou dar para o primeiro que passar na rua!
Mas não recebeu a devida atenção, pois teve um lance de perigo no jogo.
Certamente o primeiro que passa não é nenhum Gianechini. E não era mesmo. Era um pedinte fedido, velho, sujo, que lhe perguntou: “A senhora não tem nada para me dar? Algo que seu marido não quer mais?”.
“Quem sabe o segundo?”, considerou ela. Foi quando encontrou seu vizinho: um garoto, universitário, bonito, que vez por outra olhava para ela, ainda mais agora, como ela estava vestida. Não pensou duas vezes e entrou na casa dele e sem mais conversas, cumpriu o prometido, com aquele jovem rapaz que não teria outras coisas na cabeça, senão mulheres e sexo. E que disposição!
A primeira palavra que trocaram, depois de algum tempo, foi quando ele se levantou, ligou a TV para ver os gols da rodada e disse:
- Gata, estica a mão e pega uma cervejinha pra gente.